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Mestre Gert

Da redação - Onévio Zabot - 1h43min -  Gert Roland Fischer – Engenheiro Agrônomo de nomeada -, já não está mais entre nós, mas sua irreverência, sim, com certeza. Combateu o bom combate. Alguns vociferam que sim, outros nem tanto. De posicionamentos contundentes, daí agradar a alguns, e desagradar a outros, mas, sobretudo ambientalista de reconhecido mérito. Prêmio Global 500 da ONU, láurea máxima.Mas, afinal que era Gert Fischer? Incisivo as vezes, enigmático, porém perseverante. Espécie de Dom Quixote tupiniquim. 

Fez precipuamente da defesa dos manguezais e restingas um cavalo de batalha. Afrontou o poder público. Afrontou especuladores. Como autodidata afrontou a academia, fato caro à sua reputação. Suas observações, sua luta, a bem da verdade nunca foram devidamente reconhecidas, mas nem por isso esmoreceu. Obstinado jamais curvou-se à mediocridade. Só fato de - a pedido do então prefeito Nilson Bender -, elaborar o projeto de criação da Fundação 25 de Julho, o destaca como visionário. 

No projeto esboçou aquela que seria a primeira estação de piscicultura de Santa Catarina. Isso em 1966.Como escritor, talvez o melhor do Gert. Publicações memoráveis. Menos Veneno no Prato, contribuição ousada. Mangues, um clássico. Manejo Sustentado de Florestas Nativas, pioneira no gênero. Manguezais da Babitonga – Magistral Negociata do Século XX, denúncia. E artigos, muitos artigos para a imprensa. E na televisão: Ecologia em Ação, referência obrigatória em termos de entrevistas e conteúdos abordados. Fato marcante: mais de uma década no ar. Não há, portanto, como falar em meio ambiente em Santa Catarina sem citar a contribuição deste irreverente e ousado ecologista pertencente à escola de José Lutzenberger. 

 Escola, sobretudo, responsável pelas políticas ambientais de comando e controle, importante na sua época, hoje, porém sujeitas a novos desafios: políticas públicas de incentivos e pagamentos por serviços ambientais. Pouco antes de sua partida, saúde fragilizada, visitei-o. Já não era o mesmo. O cerne de aroeira pressentia o momento nada lisonjeiro como é próprio de personalidades resilientes. Respiração cansada. Palpitações. Marilu, companheira de tantas travessias, ali estava. Mesa farta. Café. Boa prosa. Gert não se conformava. Sempre cuidara com esmero do vasto quintal. Agrofloresta urbana. Reúne as últimas forças. Apresenta o laboratório vivo. Tartarugas. Composteira. Biofertilizante obtido a partir da reciclagem do lixo doméstico. 

Faz questão de presentear-me com uma amostra. Serrapilheiras no bosque, vantagem do manejo ecológico. E no entorno folhosas. Verduras: alface de um verde, verde intenso. Repolho. Cebola. Pimenteiras. Maracujá. Tudo natural. E pitaias. E nos fundos um frondoso pé de cedro. Sombra amiga. Anda pelo quintal, gesticula, mas lhe falta fôlego. Esbraveja. Não se contém o velho guerreiro. Mas, embora combalido, não se entrega. Aracuãs, mesmo disfarçadas, ousam saudá-lo. Isso tudo na Rua Diamantina em pleno coração urbano. 

Do outro lado da rua, motivo de orgulho: preservação de uma área verde ameaçada pelo avanço da urbanização desenfreada. Trilhas, sim trilhas no bosque. Ali recebia a juventude adepta da ecologia, especialmente estudantes. – Veja, pondera: aqui as palmeiras juçaras vicejam. Percebe-se plântulas bordejando o caminho. E outras maiores largando sementes. Tudo ali era exuberante. Aves de cores e tonalidades vistosas debruavam-se. Cantorias subjacentes. Natureza encantada, percebia-se claramente. Esse era o Gert do sossego. Outro, no entanto, era o Gert na APREMA – Associação de Preservação e Equilíbrio ao Meio Ambiente. 

De espada em punho brandia-a aos quatro ventos. Daí enfrentar toda a sorte refregas. Relegado, não desiste. Resiliência nunca lhe faltou. Homem de aço, sem dúvida. Mas há um outro Gert, este pouco conhecido: o mestre de gerações de estagiários. Inumeráveis estudantes conviveram com ele. E muito aprenderam, caso Piet Rombouts, agrônomo holandês que relatou livro enigmático: Biodinâmica e o Pequeno Agricultor da Região de Joinville, 1986. Apanhado precioso da agricultura campesina. Gert sempre foi assim: intenso, próprios dos gênios raramente compreendidos enquanto vivos, mas, cujo passaporte se valoriza com o decorrer do tempo. Muito orgulho ter privado de sua amizade. Vai-se o guerreiro, fica a lenda. Gratidão, mestre Gert. 

 Joinville, 17 de maio de 2023

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